A Literatura confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor.
Antonio Candido
Como a literatura contribui para o desenvolvimento da criança e do adolescente? A Literatura é a arte da expressão! Por meio dela, as experiências ganham cor e voz. Nas palavras de Antônio Cândido, famoso crítico literário, a Literatura nos humaniza por que nos faz viver. A partir das narrativas, conhecemos outros mundos, outros povos, outras culturas, outras histórias, e até passamos a nos conhecer melhor
Já a partir do nosso nascimento, podemos estabelecer uma relação de proximidade e afeto com o livro. Um bebe é capaz de apreciar a voz da mãe e do pai lendo uma história. Aquela sensação amorosa e terna deixará marcas por toda a vida da criança. Ler em voz alta para uma criança propicia o vínculo amoroso e a memória afetiva. O contar histórias tem como matéria-prima o afeto.
É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias…. Escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão do mundo. (Fanny Abramovich).
As crianças precisam ter contatos com livros desde pequenas, antes mesmo de aprenderem a ler, para que o livro e o momento de leitura proporcionem prazer e satisfação. Uma criança, ao tocar um livro, manuseá-lo, observar suas imagens, sente um prazer similar ao proporcionado pelo brinquedo.
A literatura é a arte construída pelas palavras e ela nos permite sair de nossa existência e viver outras. A leitura de textos literários permite-nos entrar em contato com histórias de outras pessoas e/ou criadas por outras pessoas, o que nos dá uma visão ampliada e simbólica da nossa própria história e, assim, podemos compreender melhor o passado, o presente e o futuro.
Além disso, essa arte permite algo muito importante: a fabulação. Um causo, uma piada, uma anedota, um mito, um conto, tudo isso é fabulação. Os elementos presentes nos diversos gêneros literários permitem a fabulação. Segundo o professor João Miguel Marinho, “fabular é preciso. Fabular faz parte da natureza humana, fabular é um modo de ser que acorda em cada um de nós o apelo ao sonho, a necessidade da fantasia, a vivência da imaginação. Ninguém consegue viver sem conviver com momentos de fabulação, que na arte literária acontece do feliz casamento do sonho com o real. E é nesse jogo de contar e imaginar a vida surpreendida pelo poder encantatório e inventivo da ficção que o ato de fabular revela como o mundo é e como o mundo poderia ser.
Por isso mesmo a fabulação humaniza, não só por estar sempre voltada para a condição humana, mas também, e talvez sobretudo, por atender à carência de fantasia como contraponto da inteligência lógica, que faz da realidade um território árido e carente de imaginação. Para viver e sobreviver, é preciso sonhar, e sonhar com palavras é um modo de reinventar a vida e fazer da existência um lugar de descobertas e de revelações.
Além de viver emoções, sentimentos e de fabular, nas entrelinhas de um texto há muito para se pensar e aprender. A história, a cultura, a tolerância e o respeito e às diferenças é um exemplo de valores que podem ser construídos através da literatura, porque através dela entramos em contato com o mundo, com outras culturas e etnias. Podemos até aprender a gostar de um lugar sem nunca o ter conhecido.
Tendo em vista a importância da literatura, Antônio Candido, sociólogo e crítico literário, afirma que ela precisa ser vista como um direito básico do ser humano. Para ele: “a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. ”
As produções literárias, de todos os tipos e todos os níveis, satisfazem necessidades básicas do ser humano, sobretudo, porque enriquece a nossa percepção e a nossa visão do mundo. Ela é uma necessidade universal imperiosa, e por que fruí-la é um direito das pessoas de qualquer sociedade, desde o índio que canta as suas proezas de caça ou evoca dançando a lua cheia, até o mais requintado erudito que procura captar com sábias redes os sentidos flutuantes de um poema hermético. Em todos esses casos ocorrem humanização e enriquecimento, da personalidade e do grupo, por meio de conhecimento oriundo da expressão submetida a uma ordem redentora da confusão .Entendo por humanização o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.
Assim, a luta pelos direitos humanos abrange também a luta pelo direito à cultura, sendo a literatura uma de suas dimensões. Todos nós, adultos e crianças, precisamos ter direito a esse patrimônio. É por isso que devemos nos empenhar para garantir a cada criança e adolescente o acesso a bons livros, aos clássicos literários ao universo de gêneros presentes em nossa sociedade: lendas, contos, fábulas, romances e poemas.
Para nós, a literatura em sala de aula não é uma mera atividade mecânica e descontextualizada, mas é uma atividade vital que acontece desde cedo, tendo em vista a riqueza que proporciona. Ela está presente durante a leitura compartilhada, nas bibliotecas de sala, em brincadeiras, em assembleias, nas aulas de teatro e nas mais variadas disciplinas.
Lemos e contamos histórias. Declamamos e interpretamos. Debatemos, analisamos e refletimos sobre as obras lidas. Acompanhamos o percurso de um escritor, construímos significados coletivamente, vivenciamos os sentimentos das personagens. Ficamos tristes, alegres, bravos, indignados, aceitamos aquele desfecho ou criamos outros.
Nesse universo, as histórias nos permitem a autoidentificação, favorecendo o conhecimento de situações desagradáveis, tristes, frustrantes e até cruéis, permitindo o conhecimento, entendimento e consequências de tais situações, como no caso de histórias narradas em tempos de guerras, em contextos de injustiças e desigualdades. Possibilita que entremos no enredo para ajudar a resolver conflitos, mistérios e temores. O universo literário cria o sentimento de empatia e de solidariedade, pois permite que nos coloquemos no lugar do outro, seja ele narrador ou personagem.
O livro infantil e juvenil vem resgatar o prazer da aventura e do sonho, envolvendo o prazer da descoberta. Colocar a palavra e a imagem à disposição da criança é uma coisa revolucionária. O papel do professor é permitir o encontro TEXTO E LEITOR. Por isso, ele também precisa ser um leitor maduro, porque ele é o intermediador, o iluminador do encontro. Ele precisa ter também convicção e entusiasmo que redundam em competência. O papel do professor é abrir a porta e os alunos vão, adiante. (Neusa Sorrenti)