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Consciência Negra

Consciência Negra - Como Comemoramos Essa Data

19/11/2025

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Há momentos na vida de uma escola que transcendem a simples transmissão de conteúdo e se tornam experiências fundantes. O mês da Consciência Negra no Colégio Diversitas foi um desses momentos mágicos onde a educação mostrou seu poder mais genuíno: o de transformar olhares, despertar consciências e construir pontes entre diferentes realidades.

Por Que a Consciência Negra É Fundamental em Nossa Escola

Antes de compartilharmos os detalhes desse projeto tão especial, é importante entendermos por que dedicamos tanta energia e cuidado a esta temática. Vivemos em um país onde 55% da população se declara preta ou parda, segundo o último censo do IBGE. No entanto, essa maioria numérica não se traduz em equidade de oportunidades, representação ou reconhecimento.

A Consciência Negra, para nós do Diversitas, não é uma data comemorativa no calendário. É um compromisso educativo permanente com a verdade histórica, com o combate ao racismo estrutural e com a valorização das matrizes africanas que formam a identidade brasileira. É sobre reconhecer que não há educação de qualidade sem diversidade, não há aprendizado significativo sem representatividade, e não há formação cidadã sem o enfrentamento consciente das desigualdades.

E tudo isso começa com nosso símbolo maior: nossa logo com os três fenótipos distintos não é apenas um elemento visual bonito. É a materialização de um projeto pedagógico ousado e necessário. Representa nosso compromisso com uma educação que celebra as diferenças, que reconhece a beleza na diversidade e que se orgulha de ser um espaço onde todas as cores são valorizadas e respeitadas.

As Oficinas que Transformaram Nossa Escola

Oficina "Territórios com Cor: Racismo Ambiental e Segregação Urbana"

Sob a orientação do professor Glaycon, os estudantes do ensino fundamental II embarcaram em uma investigação profunda sobre como o racismo se manifesta na organização das cidades. A oficina começou com uma provocação: "Por que em uma mesma cidade podemos encontrar bairros com infraestrutura completa e outros com ausência total de serviços básicos?"

Os alunos trabalharam com mapas detalhados de Belo Horizonte, identificando padrões de distribuição de saneamento básico, arborização, mobilidade e equipamentos públicos. O que descobriram foi revelador: os territórios com maior precariedade eram justamente aqueles com maior concentração de população negra, infelizmente.

Através de dados do IBGE, eles constataram que enquanto 83,5% dos domicílios de pessoas brancas têm esgotamento sanitário adequado, esse número cai para 75% entre pessoas pretas e 68,9% entre pardas. Esses números deixaram de ser estatísticas abstratas para se tornarem realidade concreta quando os estudantes relacionaram os dados com a geografia da cidade que habitam.

O ponto alto da oficina foi a elaboração de propostas de intervenção urbana. Os grupos desenvolveram projetos de urbanização, saneamento e mobilidade para áreas específicas da cidade, sempre com o olhar atento à justiça territorial e à equidade racial. Eles entenderam que planejamento urbano não é técnica neutra - é ferramenta poderosa para reproduzir ou transformar desigualdades.

Oficina "Vozes Negras na Literatura: Entre o Silêncio e a Resistência"

Com a professora Lília, nossos estudantes descobriram um universo literário que muitas vezes permanece invisibilizado nos currículos tradicionais: a riqueza e diversidade da literatura afro-brasileira. A oficina foi um verdadeiro mergulho nas palavras que resistem, que denunciam, que celebram e que curam.

O conto "Maria", de Conceição Evaristo, serviu como porta de entrada para discussões profundas sobre racismo estrutural, violência de gênero e a solidão da mulher negra na sociedade brasileira. Os alunos se comoveram com a história de Maria, a trabalhadora doméstica que é linchada em um ônibus após ser injustamente acusada de participar de um assalto.

Através da análise detalhada do texto, eles compreenderam como a literatura pode ser instrumento de denúncia social e, ao mesmo tempo, espaço de afirmação identitária. A professora Lília introduziu o conceito de "escrevivência", criado pela própria Conceição Evaristo, para explicar como a escrita pode nascer da experiência vivida, transformando dor em arte e resistência.

Já o poema "Sou Negro", de Cuti, ecoou pelos corredores da escola como um grito de autoafirmação. Os estudantes analisaram cada verso, cada metáfora, cada recurso sonoro, descobrindo como a poesia pode ser arma política e expressão de orgulho. Eles entenderam que dizer "negro e pronto!" repetidas vezes não é apenas um recurso estético - é uma posição política, uma recusa ao apagamento, uma celebração da identidade.

Veja também: Feira Literária do Diversitas - Carolina Maria de Jesus

Oficina "Ciência sem Racismo: As Contribuições Africanas e Afrodescendentes"

Com a professora Tatiana, nossos alunos fizeram uma descoberta que mudou sua percepção sobre a história da ciência: o conhecimento científico não é monopólio de nenhuma cultura ou etnia. A oficina começou com uma pergunta provocadora: "Quantos cientistas negros você conhece?"

A partir desse questionamento, eles embarcaram em uma jornada de descobertas fascinantes. Conheceram Jaqueline Goes de Jesus, a biomédica brasileira que coordenou o sequenciamento genético do primeiro caso de COVID-19 na América Latina. Descobriram Katherine Johnson, a matemática negra da NASA cujos cálculos foram essenciais para os primeiros voos espaciais norte-americanos.

Mas as surpresas não pararam por aí. Eles aprenderam sobre as contribuições científicas do Egito Antigo - o desenvolvimento do método empírico de observação, a criação da geometria, o calendário solar de 365 dias, avanços medicinais impressionantes. Compreenderam que muito do que consideramos "conhecimento ocidental" tem, na verdade, raízes africanas.

A oficina também discutiu o conceito de epistemicídio - o apagamento sistemático dos saberes produzidos por grupos oprimidos. Os estudantes refletiram sobre por que tantos inventores, cientistas e pensadores negros foram apagados dos livros de história e como podemos resgatar essas memórias.

Oficina "Racismo, Violência e o Direito à Vida no Brasil"

O professor Gustavo conduziu a oficina trazendo para o centro do debate um tema urgente e necessário. Através de uma aula-debate profundamente reflexiva, os estudantes puderam analisar como o racismo estrutural se manifesta nas ações policiais e nas políticas de segurança pública, compreendendo que a violência racial tem raízes históricas e sociais profundas.

A oficina partiu de perguntas provocadoras: "Por que as operações policiais nas favelas resultam em tantas mortes?" e "Quem são, em sua maioria, as vítimas dessas operações?". Os alunos trabalharam com dados recentes do Atlas da Violência (2023) que mostram que 77% das vitimas de homicídio no Brasil são negras, e que jovens negros têm 2,6 vezes mais chances de serem assassinados do que jovens brancos.

Através da análise de textos e debates guiados, os estudantes refletiram sobre a recente chacina no Rio de Janeiro como exemplo da violência racial institucionalizada. Eles discutiram em grupos temas como: a relação entre violência policial e racismo, o papel da mídia na representação de vítimas negras, e que tipo de segurança pública o Brasil precisa para garantir o direito à vida de todos.

O encerramento foi marcante - cada aluno escreveu uma frase completando "Viver com dignidade é..." ou "Uma sociedade sem racismo seria...", criando um mural coletivo intitulado "Vidas Negras Importam". Esta oficina não apenas sensibilizou nossos estudantes, mas os capacitou com ferramentas críticas para entender e transformar realidades sociais injustas.

Oficina "Desigualdade Racial em Dados: A Herança que Persiste"

Sob a orientação do professor Victor, nossos alunos tornaram-se pesquisadores sociais, analisando dados e estatísticas que revelam as profundas desigualdades raciais que ainda marcam nossa sociedade. Eles trabalharam com números do IBGE, IPEA e outros institutos de pesquisa, transformando dados abstratos em compreensão concreta da realidade.

Os números falaram por si: enquanto trabalhadores brancos ganham em média R$ 2.796, pretos e pardos recebem R$ 1.608. A taxa de analfabetismo é de 5% entre brancos, mas salta para 11,2% entre negros. Nos cargos gerenciais, brancos ocupam 70% das posições, enquanto negros ficam com apenas 30%.

Mas a oficina foi além da constatação das desigualdades. Os estudantes investigaram as causas históricas dessas disparidades, entendendo como a abolição da escravidão sem políticas de reparação criou um abismo social que se perpetua por gerações. Eles discutiram conceitos como racismo estrutural, privilégio branco e justiça reparatória.

O trabalho culminou com a elaboração de propostas de políticas públicas para enfrentar essas desigualdades. Os alunos desenvolveram projetos nas áreas de educação, mercado de trabalho, moradia e saúde, sempre com o olhar atento às especificidades raciais.

Oficina "Autoestima e Representatividade: Minha Cor, Minha Beleza"

Para nossos estudantes mais jovens, do ensino fundamental I, a professora Erika criou um espaço mágico de descoberta e celebração da identidade negra. Através da leitura do livro "Amoras", de Emicida, as crianças embarcaram em uma jornada de valorização da sua beleza e singularidade.

A oficina começou com uma roda de conversa acolhedora, onde cada criança pôde falar sobre suas características físicas com orgulho. "Eu tenho o cabelo crespinho igual ao do livro!", disse uma aluna do 3º ano, com os olhos brilhando. "Minha pele é cor de paçoca!", complementou outro estudante, sorridente.

As crianças criaram suas próprias princesas negras, desenhando personagens com diferentes tons de pele, tipos de cabelo e traços faciais. Elas entenderam que a beleza não tem um padrão único, que existem muitas formas de ser bonito e que suas características naturais são motivo de orgulho, não de vergonha.

A professora Erika trabalhou especialmente a questão dos contos de fadas, onde os alunos produziram histórias de princesas negras, personagens que representam beleza, força, inteligência e protagonismo.

Oficina "Heróis e Heroínas Africanos e Afro-brasileiros"

Com a professora Patrícia, os estudantes do 4º e 5º anos descobriram que os heróis não vestem apenas capas europeias - eles também carregam a força da ancestralidade africana. A oficina apresentou figuras extraordinárias como Nzinga Mbandi, a rainha guerrilheira de Angola que resistiu bravamente ao colonialismo português.

Eles conheceram Dandara dos Palmares, a guerreira e estrategista que lutou ao lado de Zumbi pela liberdade do povo negro escravizado. Aprenderam sobre Luís Gama, o advogado abolicionista que nasceu escravizado e se tornou uma das vozes mais importantes pela libertação no Brasil.

Mas a oficina não se limitou ao passado. Os estudantes também descobriram heróis contemporâneos - como Sueli Carneiro, filósofa e ativista antirracista; e Abdias do Nascimento, político e fundador do Teatro Experimental do Negro.

O ponto alto foi a criação coletiva de novos heróis e heroínas negros. Em grupos, os estudantes inventaram personagens com poderes especiais baseados em elementos da cultura africana e afro-brasileira, sempre com mensagens de justiça, igualdade e respeito à diversidade.

Oficina "O Som do Tambor: Corpo, Ritmo e Tradição"

Com o professor Gabriel, nossa escola se transformou em um espaço de celebração da musicalidade africana. Os estudantes experimentaram na pele - literalmente - a força dos ritmos que vieram da África e se tornaram fundamentais para a cultura brasileira.

Eles aprenderam sobre o jongo, o maracatu, o afoxé, o congado - ritmos que carregam em seus tambores a memória da resistência negra. Compreenderam que o tambor não é apenas um instrumento musical - é veículo de comunicação, espaço de celebração, ferramenta de resistência cultural. Pois como diz o educador, palestrante sobre a cultura negra e músico, Tom Nascimento, “nosso corpo é um tambor”.

Através de vivências corporais, os estudantes experimentaram desde o início do ano como o ritmo pode unir pessoas, criar comunidade e expressar emoções que palavras não conseguem capturar. Eles dançaram, cantaram e se conectaram com uma ancestralidade que muitas vezes lhes é negada.

Veja também: Samba e Pagode no Diversitas - apresentação de dança 

O Caminho que Seguiremos

E é com esse compromisso que seguimos adiante, orgulhosos do que construímos juntos e certos de que a educação é, sim, a ferramenta mais poderosa para transformar o mundo. Porque acreditamos que toda vez que uma criança se vê representada em sua escola, toda vez que um jovem descobre sua história e sua beleza, estamos não apenas formando estudantes - estamos construindo um futuro onde todas as cores brilham com igual intensidade e orgulho.

O Colégio Diversitas agradece a todos os educadores, estudantes e famílias que tornaram este projeto possível. Juntos, estamos escrevendo uma nova história para a educação brasileira.

Quer saber mais como seu filho pode fazer parte dessa história? Clique aqui!


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O blog do colégio Diversitas tem por objetivo ajudar as famílias e compartilhar momentos especiais vividos pelos nossos alunos. Venha conferir!

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