“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.”
Paulo Freire
A pedagogia de projetos sempre esteve presente na estrutura curricular do Diversitas: desde o início de sua formação, ainda como Escola Infantil Pé-de-Moleque, e até hoje, em todos os ciclos. Mas por que reorganizar os conteúdos, os tempos, criar uma relação entre as ciências e estratégias de ensino?
Perrenoud (2005) nos orienta sobre a necessidade de reorganizar os currículos, a relação com o saber, as interações e as estratégias de ensino, para que seja possível trabalhar não apenas com conteúdos fragmentados, mas para que também a formação humana seja contemplada. Para ele, é preciso agir em pelo menos três registros: a construção de conhecimentos e competências necessárias para fazer frente à complexidade do mundo, ou seja, os alunos precisam de meios intelectuais para se informar, para ter opinião, para defender um ponto de vista. É preciso visar a uma cultura científica: em vez de uma acumulação de conhecimentos fragmentados, o desenvolvimento de uma postura reflexiva e de uma ética da discussão. Por fim, é preciso consagrar tempo, meios, competências e inventividade didática em um trabalho intensivo e continuado com as normas, valores, as representações e o conhecimento.
Alguns pais de alunos novatos, ao tomarem conhecimento desta organização, questionam: esta estratégia garante o trabalho com todos os conteúdos de história, geografia e ciências? Os alunos podem aprender sem um livro didático? Como vocês constroem o material de ensino? Nestes momentos, explicamos aos pais o que é a pedagogia de projetos, como os materiais são construídos e qual é a relação dos projetos com as referências curriculares brasileiras. Mas a tranqüilidade, a confiança e a percepção da riqueza do trabalho quase sempre chegam no decorrer do ano, na medida em que os pais vão notando os avanços e o desenvolvimento dos filhos.
Segundo Lúcia Alvares Leite, a Pedagogia de Projetos visa à re-significação do espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho com projetos traz uma nova perspectiva para entendermos o processo de ensino/ aprendizagem. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura, todo conhecimento é construído em estreita relação com o contexto em que é utilizado, sendo, por isso mesmo, impossível separar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. A formação dos alunos não pode ser pensada apenas como uma atividade intelectual. É um processo global e complexo, onde conhecer e intervir no real não se encontram dissociados. Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada.
Vejo que a Pedagogia de Projetos possibilita ao aluno o desenvolvimento da capacidade de aprender com mais autonomia, de entenderem como surgem as ciências e como seus conhecimentos são produzidos. Nestas situações de ensino, os alunos podem levantar problemas de investigação; criar índices de pesquisa, selecionar fontes adequadas a cada tipo de investigação; perceber que o conhecimento não está em um livro didático, mas que é um produto histórico e social. Eles aprendem que o conhecimento não está encerrado dentro da escola, mas no mundo, por isso, podem e devem buscar respostas para suas questões também fora da escola. Além disto, aprendem a ler textos científicos, informativos, compreendendo a lógica e finalidade destes. Também precisam aprender a aprender, para isto fazem sínteses, resumos, mapa conceitual, relatórios, entre outros. Por fim, coletivamente aprendem a registrar o trabalho de conclusão do projeto.
Num projeto, a participação da turma é fundamental em todo o processo; da elaboração dos problemas de investigação até o registro das conclusões. Mais do que participar em todas as etapas, os alunos devem se comprometer com o objeto de pesquisa escolhido. Nesse trabalho, o (a) professor (a) deixa de ser apenas transmissor de conhecimento e passa a ser um pesquisador, que aprende junto com a turma. .
Também destacamos que, nesta lógica de ensino, a avaliação acontece durante todo o processo. Através de sínteses, experiências, reflexões, trabalhos em grupos, atividades de pesquisa e avaliações conceituais. Além disto, os projetos viabilizam a conexão de objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais, em momentos adequados e coerentes com cada etapa do trabalho.
Para encerrar, gostaria de destacar que em todos estes anos, temos investido para buscar um novo olhar sobre o que seja ensinar e aprender e, sobre o que seja o papel e a postura do(a) professor(a), já que a nossa tradição de ensinar passa pelas aulas explicativas e memorísticas, com uma lista infindável e ordenada de conteúdos fragmentados e desconectados. Assim, esta pedagogia não exige apenas uma nova metodologia, mas uma redefinição sobre o que seja papel da escola. O nosso caminho continua através da reflexão e análise da nossa própria prática e da busca de novas teorias que possam contribuir com o cotidiano escolar.
Sandra Maria de Oliveira
Professora e Coordenadora do Colégio Diversitas
Graduada e Pós graduada em História
Mestre em Educação pela PUC-Minas