Registramos algumas perguntas comuns sobre a alfabetização para organizar o texto abaixo e ajudar as famílias a orientar ainda melhor as crianças!
Por que algumas crianças, da mesma idade e classe, conseguem ler e escrever e outras não?
Porque o processo de aprendizagem é individual. Apesar de os professores darem várias orientações coletivas em sala, a trajetória de cada aluno é singular: cada um tem um processo de desenvolvimento, experiências e trajetórias diversas. Isso não significa que as crianças não estão aprendendo. Procuramos atender às diferentes necessidades com vários tipos de atividades, para estimular as diversas habilidades das crianças. Atividades que podem ser desenvolvidas em grupo e dupla, além das individuais, nas quais são abordadas necessidades específicas.
O importante é que a turma é desafiada através de jogos, brincadeiras, registros, experimentos e leituras. O progresso das crianças ficará mais claro quando os pais observarem a evolução dos registros e da leitura de seu(sua) filho(a).
Meu filho de 5 anos está na pré-escola e ainda não reconhece as sílabas simples. Isso é comum?
É fundamental dar aos pequenos a oportunidade de pensar sobre a forma como se escreve em atividades de leitura e escrita com um sentido prático.
Sim. Nessa etapa de ensino a escola está mais preocupada com a inserção das crianças em práticas sociais de linguagem. Elas são mais desafiadas a escrever da forma que sabem para, aos poucos, entenderem como funciona o sistema de escrita convencional. Contudo, com os estímulos que receberá, no decorrer do trabalho, desenvolverá esta habilidade.
É fundamental dar aos pequenos a oportunidade de pensar sobre a forma como se escreve em atividades de leitura e escrita com um sentido prático. Isso ocorre, por exemplo, quando ouvem você lendo um conto e refletem sobre as menores unidades da escrita vendo a lista de nomes dos colegas.
Meu filho escreve as palavras coladas umas nas outras. Por quê?
O nome dado a isso é hipossegmentação. Trata-se de um fenômeno temporário e bastante comum na alfabetização, quando a garotada procura reproduzir no papel o que escuta e fala. Nem sempre, no entanto, essa estratégia funciona. O problema se dá porque as crianças ainda não reconhecem o espaço entre as palavras como um sinal gráfico, o que vai ocorrer à medida que continuarem a ser desafiadas a ler e escrever. É comum também a hipersegmentação – separar o que deve ser escrito junto – realizamos uma série de propostas didáticas para que os pequenos compreendam a separação correta das palavras.
Por que alguns erros ortográficos não são corrigidos?
Organizamos o trabalho e o planejamento estabelecendo os conteúdos diversos a serem ensinados em cada ano. Focamos em determinados aspectos da língua em alguns momentos, não exigindo tanto com relação a outros, dependendo, portanto, dos objetivos propostos para cada ano. Por exemplo, se o objetivo da atividade for a produção textual, considerando a capacidade de escrever convencionalmente e de comunicar bem as ideias, a correção ortográfica pode não ser tão exigida neste momento. Isso porque, no Fundamental 1, os alunos não conseguem coordenar os dois desafios, isto é, o processo de textualização e o rigor ortográfico. Reiteramos que escrever corretamente do ponto de vista ortográfico é importante e que esse é um conteúdo cobrado em aulas específicas e no decorrer de alguns anos. As crianças não aprenderão toda a ortografia da Língua Portuguesa em apenas um ano.
Qual é o melhor jeito de estimular as crianças em casa para o aprendizado?
As maneiras são muitas. Para os pequenos adquirirem o gosto pela leitura, desde cedo, é fundamental que a palavra escrita esteja presente. Cabe aos familiares, então, deixar à disposição dos filhos livros, suplementos de jornais, gibis e revistas. O material deve estar em prateleiras baixas, ao alcance das crianças, proporcionando a livre exploração. Além disso, incentive-os a fazer empréstimos em bibliotecas, onde poderá escolher as obras que mais a agradam para ler ali mesmo ou levar para casa. Outra boa dica é permitir que os pequenos usem o computador. Hoje em dia, eles aprendem as letras pelo manuseio do teclado. Deixar sempre à mão canetas, lápis e papéis é um convite à escrita.
Minha filha tem 5 anos e já sabe ler, mas seus colegas não. O que é feito para não desestimulá-la?
A escola entende que a diversidade de saberes é uma característica de todas as turmas, e vê nisso vantagens possibilita novas aprendizagens. A forma de organizar o tempo didático já prevê situações nas quais aquelas que estão em níveis de aprendizagens distintos vão receber desafios diferentes. Isso significa que todas serão convidadas a participar das aulas, cada uma de acordo com a contribuição que pode dar naquele momento. Por isso, incluímos no planejamento situações em que os conhecimentos de cada aluno são valorizados. O trabalho é coletivo, mas cada criança tem um processo de desenvolvimento que é único. Por isso, criamos atividades para estimular as crianças em seus mais diversos níveis de desenvolvimento.
É comum os pequenos escreverem as letras ao contrário?
Sim, durante um período determinado, na alfabetização inicial, eles podem grafar as letras de forma espelhada. Isso ocorre em algumas situações e em outras não. Por que? As crianças estão em contato com muitos signos diferentes e novos para elas, tendo, inclusive, que diferenciar letras de números. Uma informação sobre a nossa língua pode ajudá-los a compreender essa situação. A direcionalidade da escrita é arbitrária. No caso do português, ela é feita da esquerda para a direita, mas nem todas são assim. Quando o aluno escreve da direita para a esquerda, ele acaba fazendo a rotação das letras. Esse processo vai se aprimorando à medida que lançamos desafios, fazemos intervenções, reforçamos a direção da escrita e corrigimos a rotação dela por meio do uso de referências, como o alfabeto que está sempre disponível para as crianças na parede da sala de aula ou a lista com os nomes de todos da turma. Nos momentos da leitura, nós, professores e pais, podemos mostrar a direção da escrita para as crianças (da esquerda para a direita) e mostrar a posição das letras e assim, a criança vai construindo estes conhecimentos.
Existe uma idade e um ano corretos para aprender a ler?
Espera-se que até o fim do 1º ou do 2º ano as crianças estejam lendo e escrevendo convencionalmente e compreendendo a função comunicativa da língua. Aprender a ler é um processo que pode ser iniciado desde muito cedo, quando as oportunidades são dadas. Ou seja, os pequenos precisam se relacionar com as práticas de leitura e escrita e com a cultura escrita, participar das aulas, se aproximar da função comunicativa da língua e, assim, aos poucos construir conhecimentos. Muitos já chegam à escola sabendo ler e escrever e outros não tiveram contato com livros ou textos de naturezas diversas antes de frequentar a instituição. Por isso, contemplamos uma diversidade de propostas para oferecer oportunidade de aprendizagem para todas as crianças.
Quando deve ser iniciado o trabalho com a letra cursiva?
Iniciamos o trabalho com a letra cursiva, apenas após as crianças alcançarem a escrita alfabética, fase em que já possuem organizada a lógica do sistema. Nesse momento, elas mesmas demonstram o desejo de escrever com a letra cursiva e, com orientação e algum treino, em pouco tempo, todas aprendem. Durante a alfabetização inicial, os pequenos trabalham pensando em quais e quantas letras são necessárias para escrever as palavras. As de fôrma maiúsculas são as ideais para essa tarefa, já que têm traçado simples – diferentemente das cursivas, que são emendadas umas às outras. O importante, não é só a conquista de uma escrita legível mas também ganhar rapidez, essencial para ter agilidade nas anotações. Isso será útil tanto nas tarefas escolares como em outras situações ao longo da vida.
A escrita do próprio nome e dos nomes de colegas ajuda no processo de alfabetização?
Sim. Aprender a escrever o nome próprio e outros nomes é uma das formas mais significativas de iniciar a alfabetização. Tal aprendizagem começa com a cópia de um modelo. A regularidade da forma dos nomes permite entender que a escrita fixa a língua falada. Toda vez que os pequenos reencontram o seu, notam que ele tem as mesmas letras e, assim, vão construindo um repertório com significado. Trabalhar com a grafia desse termo também é relevante para a reflexão sobre o sistema de escrita. Por meio da lista de nomes da turma, problematizamos semelhanças e diferenças entre eles em momentos como o da chamada.
As crianças podem chorar ou se sentir frustradas durante o processo de alfabetização?
Sim. Muitas vezes as crianças se sentem muito cobradas, outras vezes elas se comparam com outras crianças e, nestes casos, se sentem inseguras. O processo de alfabetização é desafiador. Por isso, nós, adultos, precisamos encorajar e estimular. Jamais ameaçar ou dizer que a criança não aprende ou não gosta. Ou compará-la com outra criança. Essas atitudes favorecem a formação da construção de uma imagem negativa das crianças sobre a capacidade delas mesmas de conseguirem ler e escrever. Elas passam a ter a ideia de que o desafio é muito grande e que não conseguirão aprender. Não é necessário falsos elogios, mas estímulos positivos. Podemos dizer: “olha, você está avançando bastante, muito bem”. “…, veja como se escreve esta palavra. “Muito bem você conseguiu”. “Vamos fazer desta maneira, pode ser melhor…”
É normal na Educação Infantil e início do Fundamental 1 que as crianças precisem de maior acompanhamento da família, pois elas escrevem mais devagar, estão ampliando a capacidade de ler textos maiores e mais complexos e ampliando a capacidade de ler enunciados. A autonomia de leitura é um processo que leva alguns anos.
Qual é a diferença entre alfabetização e letramento?
A alfabetização é o processo de aprendizagem onde se desenvolve a habilidade de ler e escrever. É o momento em que a criança se debruça sobre o sistema alfabético de escrita. O termo letramento surge para ampliar o significado da palavra alfabetização. “Significa o desenvolvimento das habilidades que possibilitam ler e escrever de forma adequada e eficiente, nas diversas situações pessoais, sociais e escolares em que precisamos ou queremos ler ou escrever diferentes gêneros e tipos de textos, em diferentes suportes, para diferentes objetivos, em interação com diferentes interlocutores, para diferentes funções” (Ceale). Atualmente, compreendemos que um conceito complementa o outro, pois crianças precisam aprender a ler e escrever com textos sociais e reais e, na medida em que se alfabetizam, ampliam o conhecimento sobre a cultura escrita. Ou seja, quando expomos as crianças a inúmeros gêneros que circulam em nossa sociedade, favorecemos o processo de alfabetização e letramento.
Fontes:
Revista Nova escola
http://www.ceale.fae.ufmg.br/